quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Refém da rede


Às vezes eu tenho a impressão de que estamos deixando de viver no mundo real. Enquanto a vida acontece aqui fora, milhares de pessoas estão presas lá, na tal internet. Eu mesmo já me senti assim, refém da rede. Vejam só como fica a sua vida:

Depois de um extenso dia de trabalho/aula, você chega em casa. Como de costume, precisa ler seus e-mails. Informações úteis misturadas com dezenas de correntes inúteis e slides. Leu todos? Hora de abrir o orkut. Adiciona o amigo da 1ª série, lê os recados, entra em alguma comunidade. Só não pode demorar muito, pois ainda tem muita coisa para fazer. Abre o facebook. Precisa ver as novidades dos amigos, mas bem rapidinho, porque você ainda nem postou no twitter hoje (que absurdo!). Então vai lá, neste tal twitter, disputar quem consegue ser mais bacana e divertido com uma frase só. Não pode esquecer também de atualizar seu blog, afinal seus seguidores não podem diminuir, ou você se sentirá um derrotado virtual. E atualiza também o tumblr. E o flickr. E todos aqueles sites que você precisa entrar diariamente, por força do hábito.

Enquanto você estava ali, pulando de uma janela para outra e seu messenger gritava, a vida continuava aqui fora. E parecia bem mais divertida.



Este foi mais um texto da minha nova coluna no jornal Arauto, toda terça-feira.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sorvete-seco e futebol de botão


Tenho 21 anos (não 32, como alguns teimam em dizer), então não faz muito tempo que deixei de ser criança. Mesmo assim, com o mundo mudando tão rapidamente, muitas das coisas que eu fazia na infância já não são mais feitas.

Um exemplo? Comer sorvete-seco. Arrisco dizer que mais da metade das crianças de hoje não sabe o que é sorvete-seco. Marcou minha infância. Eu tinha um colega que queria ganhar na mega-sena só para comprar um milhão destas guloseimas e encher a casa dele até o teto. E eu pedia para ele dividir o prêmio comigo se ganhasse.

Futebol de botão. Qual menino hoje joga futebol de botão? Lembro daquela coleção com jogadores clássicos. Os adesivos com o número da camisa e o símbolo, mas que sempre desgrudavam. As goleiras que não paravam no lugar e os dedos que ficavam esfolados de tanto jogar. Às vezes tinha até narrador. Hoje não tem mais.

Esta mudança não é exclusividade da nova geração. Eu também não brinquei com a maioria dos brinquedos que meus pais brincaram, então tudo bem. Fazer o quê? Só posso acabar o texto, voltar para o meu SuperNintendo e matar a saudade.


Esse foi mais um texto da minha nova coluna no jornal Arauto, toda terça-feira.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

domingo, 3 de outubro de 2010

Dia Z

Todos temos (ou teremos) um dia em que nada parece dar certo na vida.

Você acorda e descobre a cruel realidade. Acabou a bateria do celular e/ou a energia elétrica da sua casa no meio da noite. Não existe despertador extra. Sim, você está atrasado. Muito atrasado. E nem adianta contar esta história para o chefe ou para o professor.

Corre para o chuveiro, precisa rapidamente de um banho para acordar. É só ligá-lo que vem a surpresa: água tão fria quanto a que está na geladeira. Aquele apagão noturno, além de desligar o despertador, ainda queimou seu chuveiro. O banho frio é inevitável. E irritante.

Corre rápido para se vestir. As roupas saíram há pouco da máquina de secar. Mais uma surpresa: a calça jeans nova manchou suas camisas. Você pega aquela camisa surrada, lá do fundo do armário e decide que é com ela mesmo que vai seguir em frente.

Hora de calçar os sapatos ou tênis. Pelo menos estes parecem impecáveis, coloca um pé, depois o outro. Sente uma substância macia e estranha dentro dele. Quando retira, descobre que seu gato encontrou um novo lugar para, digamos, “aliviar-se”. Se você não estivesse tão atrasado, aquele bichano iria prestar contas do que fez.

Quando sai de casa, o carro não liga. Nem com reza. Agora é pedir carona ou andar depressa para não perder o próximo ônibus. Eis que surge à sua frente um táxi! Nem pensa duas vezes, embarca, já mostrando o destino. Porém, quando chega lá, descobre que esqueceu a carteira em casa. Precisa voltar e ir de novo, pagando o triplo para o taxista.

Enfim, chegou ao destino. O chefe ou o professor esperam que você apresente seu trabalho, fruto de três meses de dedicação. Ele está ali, no seu pen drive, bem à mão. É só conectar no computador e... nada. Como assim? Você lembra que não fez o backup, a tal cópia de segurança, como todo mundo recomendou. Aquele pen drive nunca havia dado problema. Mas é o seu Dia Z.

Em dias assim, só há uma solução. Respirar fundo e voltar rapidamente para a sua cama. Dormir até chegar amanhã. E esperar que não seja outro Dia Z.



Esse foi o texto da semana na minha nova coluna no jornal Arauto, toda terça-feira.

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